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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A linguagem da Estrela


Ainda nestes dias de Epifania, eis que belíssima ideia do Papa Bento XVI sobre a estrela de Belém.
Primeiramente, o Santo Padre afirma que esta estrela pode realmente ter relação com a conjunção de Júpiter e Saturno no signo zodiacal de Peixes, ocorrida por volta da época do nascimento do Senhor nosso Jesus Cristo. Assim, ainda que seu significado seja primeiramente teológico: a estrela do Menino, Sua luz bendita que ilumina e guia todo ser humano que vem a este mundo, teria como fundamento efetivo um fenômeno astrológico.
Nota, então, o Papa, pensando nos Magos: “A constelação estelar podia ser um impulso, um primeiro sinal para a partida exterior e interior; mas não teria conseguido falar a esses homens se eles não tivessem sido tocados também de outro modo: tocados interiormente pela esperança daquela estrela que devia surgir em Jacó (cf. Nm 24,17)”.
E Bento XVI faz ainda as seguintes considerações, de beleza e profundidade tão próprias a ele: “Se os Magos, que andavam à procura do rei dos judeus guiados pela estrela, representam o movimento dos povos para Cristo, isso significa implicitamente que o universo fala de Cristo, mas a sua linguagem não é totalmente decifrável para o homem nas suas condições reais. A linguagem da criação oferece variadas indicações; suscita no homem a intuição do Criador; além disso, suscita a expectativa, antes, a esperança de que um dia este Deus Se manifestará; e ao mesmo tempo suscita a consciência de que o homem pode e deve ir ao encontro Dele”.
É muito bela a percepção do Santo Padre! O universo com suas leis desperta no coração humano o pasmo, a admiração e, consequentemente, a pergunta inevitável: De onde vem tudo isto? Quem criou toda esta maravilha? E para quê? Seria tudo isto fruto do acaso ou, ao invés, há uma Inteligência maravilhosa, um Amor onipotente e infinito que tudo tenha feito? Mas, o homem pode sufocar tais perguntas, pode desvirtuá-las: “Mas, o conhecimento que brota da criação e se concretiza nas religiões pode também perder a justa orientação, deixando de impelir o homem para se pôr em marcha para além de si próprio e induzindo-o antes a fixar-se em sistemas pelos quais julga possível enfrentar os poderes ocultos deste mundo”. Palavras perspicazes! Seja a religião, quando perde de vista a bondade e o amor supremo do Criador, como também a ciência, quando se entrete com suas teorias e sistemas, pensando que neles o sentido pode se esgotar e tudo explicar, tornam-se, então, caricatura de si próprias. É quando leva ao Deus verdadeiro, quando se abrem ao Mistério, que religião e ciência encontram sua mais profunda razão de ser e sua dignidade.
Ainda uma belíssima intuição do Papa: “Na nossa narração, aparecem ambas as possibilidades: a estrela conduz os magos, primeiro só até a Judeia. É plenamente natural que eles, à procura do recém-nascido rei dos judeus, fossem à Cidade real de Israel e entrassem no palácio do rei; presumivelmente, deveria ter nascido lá o futuro rei. Mas eles, para encontrar definitivamente a estrada para o verdadeiro herdeiro de Davi, precisam ainda da indicação das Sagradas Escrituras de Israel, das palavras do Deus vivo”. Assim, somente a pesquisa sobre o universo, somente a inquirição sobre as leis no âmago dos seres, somente um conhecimento mais preciso e abrangente da natureza não dão o sentido último da realidade. O sentido mais profundo, somente à luz da Palavra de Deus é-nos desvendado.

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